Nada é permanente, exceto a mudança | Conto #4
O que Heráclito, um rio e jogos de videogame podem nos ensinar.
Faz algum tempo que estou tentando manter uma rotina matinal, que vá além do meu tão amado e necessário cafezinho. Aproveito esse momento de cabeça fresca (mesmo que ainda sonolenta), pra sentar na minha mesa de criação e esvaziar pensamentos e sentimentos no papel. Às vezes são ideias que se transformam em arte, em uma newsletter ou simplesmente desabafos íntimos registrados no bullet journal (meu diário).
Assim que abri a última página escrita, me deparei com a frase que eu escrevi em fevereiro de 2023, sem fazer ideia do que viria pela frente.
Fiquei olhando o papel e pensando o quanto a vida é mesmo uma grande mudança. Afinal, um passo no dia seguinte e já não somos mais o que éramos ontem. Aprendemos algo novo, vimos algo diferente, pensamos outras coisas, estamos vivendo em outras vinte e quatro horas.
Depois de passar por várias mudanças físicas e emocionais nesses últimos anos (e recentemente, mais uma mudança de endereço), era de se esperar que esse assunto estivesse martelando na minha cabeça, tal qual aquela dor de cabeça insistente de quando exageramos na dose de cafeína.
Em meio à caixas de mudanças, fui pesquisando mais sobre o filósofo e outra frase me chamou a atenção. Ela complementa perfeitamente o assunto de hoje:
“Não se pode entrar duas vezes no mesmo rio”. (Heráclito)
Pense. Se entrarmos em um rio nesse exato minuto e saírmos, quando entrarmos novamente, mesmo que segundos depois, ele não será mais o mesmo. Pois o trecho que uma vez nadamos, terá ido embora correnteza abaixo. E assim é a vida, uma aventura em um grande rio. Onde em alguns momentos conseguimos boiar e relaxar na superfície e em outros estaremos lutando para sobreviver à água brava durante uma tempestade.
A tempestade pode ser os acontecimentos da vida e também o que acontece dentro da gente. Nosso corpo é composto de mais de setenta porcento de água. Se uma mudança climática e o alinhamento de planetas podem mudar o movimento das águas, imagine o que pode fazer com o nosso emocional.
A mudança é inevitável. Como você reage à ela, é opcional.
Você pode relutar, chorar e se frustrar com toda mudança à sua frente ou você pode aceitar, abraçar e deixar a correnteza te levar. Eu acredito piamente que tudo que passamos é por um motivo e está alinhado a um propósito, que no momento pode fazer zero sentido mas lá adiante você vai entender e até agradecer. Nossa teia da vida está tecida e os caminhos estão traçados, o que há de ser seu, será. Acredite.
E não, isso não é papo “gratiluz”. A mudança nunca é fácil. Ela é sim dolorosa, mesmo quando é positiva. Ela traz os medos e as sombras à tona. Ela faz você duvidar de você mesmo(a). Mas assim como os planetas conseguem alinhar ou desalinhar nosso emocional, nós como seres humanos conseguimos controlar nosso cérebro e, portanto, nossos pensamentos diante determinadas situações.
“A dor é inevitável, o sofrimento é opcional.” (Carlos Drummond de Andrade)
Eu, particularmente, encaro a mudança como uma porta aberta para tudo que é novo: oportunidades, experiências, pessoas, conhecimentos, ambientes. É como um botão de restart naquele jogo que você tentou passar de fase mil vezes e não consegue, perdeu a paciência e não quer mais jogar.
Nesses momentos, acredito que a melhor saída é simplesmente dar uma pausa, respirar fundo, recarregar as energias e quando estiver pronto(a), escolher a melhor opção.
Diferente dos jogos eletrônicos, na vida real o game-over só existe se você desistir. Você pode tentar e recomeçar quantas vezes quiser. E se estiver muito difícil, pode escolher outro nível, mudar de fase, trocar de jogo. É assim que encaramos as mudanças na vida. Ninguém é obrigado a sofrer parado, no mesmo lugar. Somos livres para escolher outros caminhos e fazer novas escolhas, até nos sentirmos satisfeitos e felizes com o que faz sentido no momento. Pois no futuro, pode não fazer mais.
Nós temos apenas uma vida. Durante essa jornada, podemos jogar apenas um único jogo ou tentar jogos diferentes. Podemos sentar em segurança na margem do rio e observar a água passar ou podemos pular e nos aventurar no desconhecido.
Qual você escolhe?
Ei, psssiu!
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